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ANTAGONISMO



Antagonismo

O trabalho “Antagonismo”, de 180 desenhos A4 com a técnica em que preencho todo o papel com uma barra de grafite, deixando-o com um tom cinza escuro uniforme, processo que cria ranhuras e pequenas fissuras no papel devido às impurezas do grafite. Então, a imagem vai se formando com o uso da borracha, num trabalho de produzir luz nas sombras do grafite. Para isso, é crucial a variedade de borrachas, para criar efeitos de manchas, linhas, borrões. Por fim finalizo algumas partes escurecendo-os com lápis de grafite macio (6b,8b). O processo de desenhar com a borracha é produzido por camadas de manchas, criando um diálogo com o fazer pictórico ao não se ater aos contornos.Os desenhos foram motivados pelas fotografias de rostos de soldados da Primeira Guerra Mundial em processo de reconstrução facial através da cirurgia plástica do Dr. Harold Gillies e são dispostos em grade, que remetem aos memoriais fotográficos de família e do Estado e emoldurados com displays os quais compõem a formalidade e a institucionalidade da memória. Porém, a demasia de tais rostos gera o conflito entre o lembrar e o esquecer, considerando que há o empenho e a recusa da visão de adentrar na atmosfera sombria de desenhos de corpos mutilados. A técnica de desenhar com a borracha produz o antagonismo do corpo visível e apagado. Essa exposição toca na arquivação dos mortos, não perdendo de vista que estes soldados estavam vivos quando foram fotografados, pois, o intuito é pensar a contradição do discurso bélico dos heróis da pátria, um protagonismo que se torna antagonismo quando depara-se com a deformação, a dualidade da ruína e do progresso na memória e esquecimento.